segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

COISAS DE CASAL

Duas pessoas  viveram juntas por 62 anos.   No final da vida, aos 89 anos de idade, completamente lúcido, ele entra no Hospital com um único pedido: "Quero apenas tirar de mim esta dor! Por favor não façam nada que prolongue desnecessariamente a minha vida".  E repetia com tanta convicção que na primeira hora no PS  a equipe de Cuidado Paliativo foi acionada.
Um homem grande, de feições largas, emagrecido pelo câncer que se espalhava pelos ossos e trazia dor ao corpo todo. Há dias não conseguia comer de tanta dor. Há semanas se contorcia no leito, tentando em vão achar uma posição que lhe fosse mais favorável. Nada aliviava.
O alívio veio rápido. No dia seguinte, sem vestígios de dor, conversava muito. Falava com tranquilidade sobre a proximidade de sua morte e, de certa forma, trazia conforto a todos em sua volta.
Não usou sondas e permaneceu livre todo o tempo em seus últimos cinco dias de vida. As mãos gesticulavam com suavidade, acompanhando o ritmo da conversa pausada pelo cansaço.
No último dia, sem forças para falar e gesticular, agarrou-se à mão do seu amor.
Ela o acariciava com suas duas mãos e amparava a mão pesada, já se expressão. Estava partindo. Sem sondas, sem incômodos... com as MÃOS LIVRES!            

domingo, 8 de janeiro de 2012

UM POEMA PELAS MÃOS LIVRES

Nossa campanha ganhou uma poesia. Um poetamigo - Rodrigo Ladeira - sensível ao tema nos presenteou:



DE MÃOS LIVRES


Não me amarres
Não me devores
Não me prendas
Minha alma tem como princípio
Ser livre
Me amarres só se for de amor
Me devores só se for de compreensão
Me prendas só se for com asas
De Mãos livres
Posso reescrever minha história
Com menos dor
Com mais acolhimento
Sonhando livre e solto
Minhas mãos passeiam
À procura das tuas
Não é um pedido
É dignidade


Rodrigo Ladeira

sábado, 7 de janeiro de 2012

ESCALRECIMENTOS E ARGUMENTOS:




Uma calorosa e produtiva discussão teve lugar no facebook.
Argumentos não nos faltam. Os profissionais, sobretudo os da enfermagem, que lidam mais cotidianamente e SOFREM quando são levados a conter um doente, usam os argumentos que lhe veem à mão. Correto. Mas, se pararmos de fato para pensar a prática das mãos livres não se justifica, senão no extremo da ameaça à vida em surtos psicóticos com extrema agressividade.
Usei os meus argumentos e agora reproduzo:




  •  1. A contençao, por resolução do próprio COFEN está indicada APENAS nos casos de surtos psiquiátricos, COM GRAVE AMEAÇA À INTEGRIDADE DA PESSOA E DOS PROFISSIONAIS. Muito claro. Mesmo assim, exige a presença de 5 profissionais, avaliação a cada hora, acompanhamento contínuo por um profissional de enfermagem e menor duração possível. Ver: http://www.coren-df.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=688:parecer-de-relatora-no-0322009&catid=38:pareceres&Itemid=73 e http://www.fcmscsp.edu.br/ead/educasus/evento.php?eve_id=61

  •  2. Não. Este não caso de que tanto falamos. Pacientes idosos e sequelados que por sua fragilidade não se defendem de sintomas incomodantes e de AÇÕES inadequadas impostas pelos profisssionais de saúde, são contidos, ferindo o que podem ter de mais rico: sua dignidade e sua história de vida. 


    3. As tais sondas nasoentéricas não são uma obrigatoriedade e nem um tratamento imprescindível: não resolvem a caquexia, não diminuem o risco de broncoaspiração e perdem sua indicação no final da vida porque parar de comer é absolutamente fisiológico nesta condição. Comer pouco também. Aquilo que o doente, alimentado com paciência, consegue ingerir é suficiente para o catabolismo natural em que ele vive. Afinal, deveríamos mesmo morrer naturalmente nesta hora. É a fisiologia e a história natural do ser humano. As sondas são incômodas não apenas na hora da passagem. Mas, todo o tempo do seu uso, com algumas exceções.  


    4. A questão de ser ou não alimentado artificialmente depois de perder a capacidade para tal (o que significa muitas vezes a proximidade da morte) é uma questão para outro forum mais complexo, o da DIRETIVA ANTECIPADA DE VONTADE. Desejo de cada um, que ninguém pergunta ou respeita. Somos por demais autoritários na hora de impor uma conduta. 


    5. Para quem tem clara indicação de ser alimentado artificialmente ou o deseja,  a Gastrostomia percutânea é alternativa mais respeitosa, embora não mais segura em termos de broncoaspiração. 


    6. Quanto à Agitação Psicomotora - APM...  uma questão 100% clínica: INVESTIGAÇÀO é a resposta. O delírium está sempre relacionado a uma causa, na maioiria das vezes reversível, a qual deve ser adequadamente investigada e tratada. O uso de baixas doses de antipsicóticos e as vezes adicionado a um sedativo pode ser feito apenas enquanto se reverte o caso, com competência e segurança. Depois, suspensos. 


    7. Se há obrigatoriedade para um paciente com contenção ser acompanhado por um profissional de enfermagem.... sem argumentos para quem fala de ter poucos profissionais. Conter só exige mais equipe. 


    8. Com relação às famílias, também é fácil culpa-las. Claro que há negligência. Mas, na maioria das vezes, fruto de uma dinâmica familiar ou contexto cultural, que precisa ser avaliado e abordado com delicadeza e competência. Na maioria das vezes, contornável e reversível. Psicologia, Serviço Social e a cumplicidade de toda a equipe é fundamental, antes de se rotular uma relação familiar.

  • 9. Não há argumentos, senão a necessidade de nos reunirmos, revermos valores e trabalharmos juntos por mudanças muito profundas na nossa rede de saúde. 


    10. E se o mundo faz errado... lamento... Também não é desculpa para deixarmos de lutar firmemente pelo correto, pelo ético e pelo digno para o paciente e para todos nós, profissionais. A mudança é cotidiana e começa no seu local de trabalho... JÁ!! 


    DIGA NÃO À CONTENÇÃO DE MÃOS!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O CREDO

Iniciar uma mobilização como esta significa acreditar que mudanças são possíveis.
Muitas vezes (ou quase sempre) agimos profissionalmente com valores e conhecimento do passado e é muito difícil abrir mão de velhos hábitos.
Um colega médico uma vez bradou, irritado: "Faço isso há mais de 30 anos. Como alguém chega agora e tenta mudar???"   A resposta na ponta da lígua: Dr, se você faz a mesma há mais de 30 anos, tá na hora de incorporar o conhecimento deste tempo todo.
Acho que mudar exige estratégias:
1. Sensibilizar, divulgar a nova idéia, de forma empática, sem violência.
2. Educar. Apontar novas formas de agir, divulgar conhecimento, com base científica.
3. Estimular a ação, estabelecer meios que facilitem a implantação.
4. Uma norma muitas vezes é necessária. 
5. Supervisionar, cobrar o cumprimento da nova norma.
6. Educar, reeducar, educar, reeducar... perenizar conhecimento.
7. Elogios às boas iniciativas caem muito bem e são imprescindíveis.
Estamos tentando sensibilizar o maior número de pessoas.


Educar é preciso!


DIGA NÃO À CONTENÇÃO DE DOENTES.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O COMEÇO DE TUDO....

O COMEÇO DE TUDO...


A campanha "De Mãos Livres" teve início no natal de 2011.
O desejo era fazer algo de bom para o ano que se iniciava e que simbolizasse o cuidado ao doente idoso, à pessoa frágil e àquela que está no final da vida.
A idéia surgiu rapidamente.
"De mãos livres" significa oferecer a possibiidade de um cuidado absolutamente humano a estas pessoas que comece por uma atitude positiva: o respeito à integridade e à identidade do doente.
A primeira publicação saiu no facebook, na madrugada de 25 de dezembro, e imediatamente recebeu muitos comentários.
E o ritual prosseguiu cotidianamente, com muitas manifestações positivas e compartilhamentos das mensagens.
Muitas idéias a respeito de como fazer valer esta campanha foram surgindo e muitas pessoas manifestaram desejo de participar.
O Blog é uma forma de ampliar este forum, divulgar e elaborar estratégias para uma mudança de práticas muito antigas na área da saúde.
DIGA NÃO À CONTENÇÃO DE DOENTES!
As mensagens sempre terminam com este chamado.
Um alerta a profissionais de saúde, doentes e usuários da rede de saúde. Todos nós.
Mas.. do que se trata esta contenção?
Diante de uma pessoa idosa, ou incapaz de se comunicar claramente e que apresente um quadro de agitação motora, a equipe de saúde lança mão de artefícios que imobilizem o doente mecanicamente. Podem ser ataduras que amarrem o doente à cama pelas mãos, tronco a até as pernas.
Outra forma é envolver a mão com algodão e tantas ataduras que o doente não possa usá-la para, por exemplo, sacar uma sonda ou ouro dispositivo. São as chamadas luvinhas (no diminutivo, para tentar amenizar a situação)
Esta cena é cotidiana em praticamente TODOS os hospitais no Brasil.
É uma prática que encerra extema violência e um ato inconstitucional ao tolher a liberdade de alguém incapaz ou frágil, com o agravante de estar sob cuidados profissionais.
Porém, os profissionais de saúde assistem a esta cena todos os dias. Tanto e com tanta frequência que passam a acreditar como normal ou necessário.
Algumas pessoas acreditam piamente que estão fazendo um bem, que estão protegendo a pessoa de quedas ou outros acidentes e que esta é a melhor forma de manter um determinado tratamento.
Outras, alegam más condições de trabalho, como número insuficiente de profissionais na equipe, para vigiar e proteger os doentes.
Muitos médicos teem o receio de provocar excessiva sonolência no doente ao controlar a agitação através de medicamentos.
O que todos esquecem é que esta prática não se justifica em pleno século 21.
O status do conhecimento atual não permite mais utilizar métodos já decadentes há mais de meio século e nada nesta vida justifica impedir a pessoa frágil ou fragilizada de manter a sua Liberdade!
Por todos os argumentos e motivos que você conhecer:

DIGA NÃO À CONTENÇÃO DE DOENTES.